Não vemos as coisas como elas são, vemos as coisas como nós
somos” (Talmude )
Estivemos em tempo de manifestações, agora estamos em tempo
de Copa do Mundo.
Temporariamente nos calamos. Por alguns dias, nos demos uma
trégua para acompanhar a seleção brasileira, que esteve amplamente promovida por todos os meios de
comunicação.
Vínhamos num mar crescente
de revoltas, de piquetes, depredações, e xingamentos. Estávamos carentes de
fantasia, carentes e desprevinidos;e aí um
vento soprou em nossos ouvidos com a possibilidade do êxtase: vencer a Copa. Sim, inconsciente pensamos : porque
não nos permitirmos ouvir o canto das sereias?
Por onde andaram os protestos reclamando mais investimento
em saúde, transporte público, educação, saneamento básico, moralização na
política, etc. Por onde andaram as notícias de depredações, piquetes,black block?
Ajudados pela mídia, fomos presenciando
a chegada em massa de estrangeiros, a abertura da Copa. Assistimos o movimento de
chegada dos times, e finalmente o início dos jogos, que foram ficando agradáveis,
surpreendentes, mágicos. Copacabana e Fifa Fun Fest.
"Pães
de Ácucar, Corcovados... Água mole.Pedra
dura. Tanto bate que não sobrara nem pensamento”
A nossa rotina foi quebrada e as saídas antecipadas do
trabalho nos mobilizaram e mesmo os mais céticos e arredios ao futebol entraram momentaneamente naquele bolsão de alegria.
A receptividade brasileira
sendo elogiada aos quatro cantos. Deu tudo certo. Estranhávamos esse sucesso porque os prognósticos
eram de completo fracasso. O país parecia maquiado e maquinado para que tudo desse
certo até o final.
Até que um viaduto desabou...
até que a sujeira da venda de ingressos
veio à tona... até o Neymar se despedir da Copa... e até à última terça feira,
quando o país emudeceu, estupefato, diante daquele jogo Brasil x Alemanha
Silêncio total.E acordamos.E nos demos conta, gradativamente, de que não temos uma
seleção dos sonhos e de que o nosso país
continua o mesmo, agora sem fantasia. Após a partida dos estrangeiros, que agora mais nos parecem forasteiros, até invasores
e porque não dizer,voltaremos a nos ver.
Não por acaso perdemos para a Alemanha. Para um país e um
time que apresenta solidez ,adquirida a duras penas. Solidez oriunda de técnica apurada , de uma estrutura baseada em disciplina, esmero técnico,inteligência tática. Amadurecimento porque se
olham de frente. Solidez individual e de grupo.Consciência de que não se constrói o sucesso sustentado somente na
performance individual. Porque foram sólidos mas não se enrijeceram.
No mundo corporativo algumas empresas também já se deram
conta de que a competência e o talento por si só não ganham campeonatos. E nem mesmo a genialidade de um fundador ou de
um líder garante a sua permanência no cenário.
Porque alguns já sabem que só existe competência quando há entrega ou resultado. Ou seja, por
mais que se tenha conhecimentos, habilidades e atitudes ,se não vier acompanhada de estratégia e
inteligência tática e objetivos
muito bem definidos, além de estrutura, não se sai vencedor. E menos ainda se o alicerce estiver calçado em
desempenhos individuais. Porque se sabe também que só em grupo se consegue preencher todas as lacunas de desempenho.
Enfim, já passou o tempo em que se podia contar com o improviso, com o
gingado, com performances individuais ou com esperteza . Ou somente com a inspiração,
tão relativa. No contexto atual, a sorte
só se encontra com a técnica. E o estado da arte só se alcança com a maestria.
Mesmo que ainda sobrem exemplos vivos de uma atuação ultrapassada, elas não se sustentarão por mais tanto tempo. Porque o tempo urge. E não há mais espaço
para seres humanos desconectados e desconexos. O preço a pagar é muito alto para correr o risco com “ apagões” de performance.
Devemos agora encarar os fatos como oportunidade de aprendizado, tanto com os fracassos como com os sucessos que também foi uma
surpresa).
E teremos muitas reflexões a fazer.
Como indivíduos, o quanto temos de atitudes parecidas com a
daqueles jogadores no meio do campo? Estamos preparados? Quantas vezes o concorrente ou adversário ainda será mais forte? Ou nós é que ficamos
dominados pelo sentimento de menos valia e esquecemos tudo que sabemos? Do que temos medo? Onde está nossa fraqueza?
Nos conhecemos, sabemos dos nossos recursos e como utiliza-los? Estudamos o
adversário? Temos fôlego para enfrentá-lo ? Sabemos quem está ao nosso lado e quais são os recursos de que dispomos?
Conhecemos o nosso time? Somos um time, afinal com propósitos coletivos ou
queremos uma oportunidade de promoção pessoal? O que nos motiva? O que nos leva
a enfrentar todos os obstáculos, com destemor?
A única certa é que não podemos desistir
porque o jogo não para,o tempo não para. Parar fica pior.
E as organizações,especialmente as brasileiras, não precisariam passar por essa reflexão?
E nós como povo brasileiro e como nação não deveríamos também nos deitar
no divã?
Em que queremos nos tornar?
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