O pensar, o sentir e o
querer.
Voltei
ao Rio após quatro dias internada em um curso de formação no interior de São Paulo, num mosteiro beneditino, sem meio de comunicação disponível. Apenas alguns pontinhos de conexão no celular. Assim mesmo em locais e horários
distintos. Mas o lugar era incrível, com
direito a missa e canto gregoriano.
Éramos,
no curso, um grupo de 31 pessoas, com idades, origens e ocupações distintas. E
motivos diversos também. A tônica ficou na busca: por mais conhecimento, mais
habilidade, respostas e ferramentas mais técnicas para aplicar em suas vidas ou
empresas. Alguns em fase de transição de carreira ou de sucessão nas empresas
de família, outros buscando embasamento para tomada de algumas decisões
importantes na vida. E eu. Fui buscar
aprimoramento técnico e conceitual com base na Antroposofia. Busca por
aprimorar e fortalecer o meu papel como coaching e consultor. Pelo menos quando
cheguei.
A
verdade é que o movimento de busca gera mais movimento e esse movimento gera
revolução, e transformação. Porque para mudar e sair de onde se está, torna-se
necessário movimentar recursos internos e aí a transformação naturalmente
acontece. Antes de sair para o mundo e
provocar mudanças precisamos encarar e descobrir internamente o que nos move e
nos amplia.
E
por isso, muito apropriadamente, a formação é feita para sermos facilitadores.
De processos. De pessoas frente a esses processos. E de mudanças, quando
necessárias. Porque somente o outro pode fazer a mudanças que busca. A abordagem metodológica se ancora na Antroposofia
e conseqüentemente na Euritimia, vivência de movimento que nos leva a entender
e absorver a experiência das dimensões do Pensar, do Sentir e do Querer.
Segundo
a teoria de Rudolf Steiner, para entendermos o ser humano em sua totalidade é
necessário observar algo que vai além das palavras ou mesmo dos gestos e
feições que exprime. Importante distinguir o que vai além do discurso e da
linguagem corporal.
O nosso pensar está ancorado em nosso passado – nossa
biografia pessoal, educação e experiências. Para não entrarmos em choque com o
outro, precisamos nos conscientizar de que a outra pessoa também tem o seu
passado e sua bagagem, bastante diferente do nosso. Podemos nos equivocar
imaginando uma congruência quando ela realmente não existe.
O
nosso Sentir é a energia que faz a ponte entre o querer e o pensar e está
sempre atuando em polaridades de simpatia e antipatia. A percepção acurada dos
sentimentos é freqüentemente dificultada pelos efeitos de nossas próprias
emoções. Algumas palavras podem obscurecer nossa percepção daquilo que o outro
está sentindo.
As
forças do agir e o querer são complementares das forças do pensar. O futuro encontra-se adormecido nas forças
do querer.
Essas
forças arquetípicas atuam simultaneamente e fazem a complexidade do homem.Nas
organizações e no palco da vida vai nos deparar com pessoas que são mais da
esfera do pensar: argumentam de forma brilhante, tem excelentes idéias, mas não
fazem acontecer. Outras são mais voltadas para ação, para o querer, mas não
pensam, não avaliam as conseqüências ou não dominam os conceitos. Há também
aquelas que são puro sentimento, tidas como imaturas, sonhadoras, superficiais
ou ingênuas ou que atuam no “oito ou oitenta”
É
possível alcançar a essência dos processos de mudança quando conseguimos, de
forma consciente, equilibrar o pensar, o sentir e o querer. E é
uma missão inalienável da individualidade. Do eu.
Daí o papel de facilitador desse processo. Mas esse
papel só pode exercido esse quando colocado em prática. E o primeiro
passo é ter consciência.
Mas,
estava de volta para o Rio. Senti uma forte emoção com a beleza dos contornos
das montanhas, ilhas e curvas do litoral ao sobrevoar o Rio de Janeiro num
final de tarde ensolarada. O avião fez uma curva e posicionou a aeronave para aterrissar
no Santos Dumont e pensei: aqui é o meu lugar. Mesmo depois de descer do avião
e ser recepcionada pelo calor e barulho, e depois pelo trânsito caótico e pela
falta crescente de educação dos motoristas, declaro meu amor ao Rio.
Porque
o amor e o desejo desconhecem aparentemente
a lógica e a racionalidade. E a decisão muitas vezes obedece a dimensão do sentir.
Tudo bem. Importante é ter consciência disso.
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