domingo, 30 de março de 2014

O pensar, o sentir e o querer


O pensar, o sentir e o querer.


Voltei ao Rio após quatro dias internada em um curso de formação no interior de São Paulo, num mosteiro beneditino, sem meio de comunicação disponível. Apenas alguns pontinhos de conexão no celular. Assim mesmo em locais e horários distintos.  Mas o lugar era incrível, com direito a missa e canto gregoriano.

Éramos, no curso, um grupo de 31 pessoas, com idades, origens e ocupações distintas. E motivos diversos também. A tônica ficou na busca: por mais conhecimento, mais habilidade, respostas e ferramentas mais técnicas para aplicar em suas vidas ou empresas. Alguns em fase de transição de carreira ou de sucessão nas empresas de família, outros buscando embasamento para tomada de algumas decisões importantes na vida. E eu.  Fui buscar aprimoramento técnico e conceitual com base na Antroposofia. Busca por aprimorar e fortalecer o meu papel como coaching e consultor. Pelo menos quando cheguei.

A verdade é que o movimento de busca gera mais movimento e esse movimento gera revolução, e transformação. Porque para mudar e sair de onde se está, torna-se necessário movimentar recursos internos e aí a transformação naturalmente acontece.  Antes de sair para o mundo e provocar mudanças precisamos encarar e descobrir internamente o que nos move e nos amplia.

E por isso, muito apropriadamente, a formação é feita para sermos facilitadores. De processos. De pessoas frente a esses processos. E de mudanças, quando necessárias. Porque somente o outro pode fazer a mudanças que busca.  A abordagem metodológica se ancora na Antroposofia e conseqüentemente na Euritimia, vivência de movimento que nos leva a entender e absorver a experiência das dimensões do Pensar, do Sentir e do Querer.

Segundo a teoria de Rudolf Steiner, para entendermos o ser humano em sua totalidade é necessário observar algo que vai além das palavras ou mesmo dos gestos e feições que exprime. Importante distinguir o que vai além do discurso e da linguagem corporal. 

O nosso pensar está ancorado em nosso passado – nossa biografia pessoal, educação e experiências. Para não entrarmos em choque com o outro, precisamos nos conscientizar de que a outra pessoa também tem o seu passado e sua bagagem, bastante diferente do nosso. Podemos nos equivocar imaginando uma congruência quando ela realmente não existe.

O nosso Sentir é a energia que faz a ponte entre o querer e o pensar e está sempre atuando em polaridades de simpatia e antipatia. A percepção acurada dos sentimentos é freqüentemente dificultada pelos efeitos de nossas próprias emoções. Algumas palavras podem obscurecer nossa percepção daquilo que o outro está sentindo.

As forças do agir e o querer são complementares das forças do pensar. O futuro encontra-se adormecido nas forças do querer.

Essas forças arquetípicas atuam simultaneamente e fazem a complexidade do homem.Nas organizações e no palco da vida vai nos deparar com pessoas que são mais da esfera do pensar: argumentam de forma brilhante, tem excelentes idéias, mas não fazem acontecer. Outras são mais voltadas para ação, para o querer, mas não pensam, não avaliam as conseqüências ou não dominam os conceitos. Há também aquelas que são puro sentimento, tidas como imaturas, sonhadoras, superficiais ou ingênuas ou que atuam no “oito ou oitenta”

É possível alcançar a essência dos processos de mudança quando conseguimos, de forma consciente, equilibrar o pensar, o sentir e o querer. E é uma missão inalienável da individualidade. Do eu.

Daí o papel de facilitador desse processo. Mas esse papel só pode exercido esse quando colocado em prática. E o primeiro passo é ter consciência.


Mas, estava de volta para o Rio. Senti uma forte emoção com a beleza dos contornos das montanhas, ilhas e curvas do litoral ao sobrevoar o Rio de Janeiro num final de tarde ensolarada. O avião fez uma curva e posicionou a aeronave para aterrissar no Santos Dumont e pensei: aqui é o meu lugar. Mesmo depois de descer do avião e ser recepcionada pelo calor e barulho, e depois pelo trânsito caótico e pela falta crescente de educação dos motoristas, declaro meu amor ao Rio.

Porque o amor e o desejo desconhecem aparentemente a lógica e a racionalidade. E a decisão muitas vezes obedece a dimensão do sentir. Tudo bem. Importante é ter consciência disso.




Nenhum comentário: