terça-feira, 11 de março de 2014

Carnaval


Além do calor incrível que não deu trégua, tivemos pela frente o Carnaval e toda sua alegria. Pensei primeiramente em me refugiar em casa mas o calor me fez encarar o dia, a luminosidade do sol e o dia todo pela frente.
Não adiantava mais àquela altura fugir. Todo esse clima e situação me obrigou a  ser feliz. Mas me senti meio esquisita por não compartilhar de tanta felicidade. Sonhei egoisticamente com chuva, frio e céu nublado pra justificar o meu desejo de ficar quietinha em casa e ter o privilégio de ser infeliz um pouquinho.
Mas estava definitivamente obrigada a ser feliz. O meu estado poderia ser considerado de completa inadequação.  Alguns até diriam que se tratava de depressão. Eu chamaria  de o direito de não estar feliz. Poderia optar pelo isolamento.
Mas não resisti.  E me entreguei por dois dias à alegria contagiante do Carnaval. Achei um refúgio na rua do Lavradio com seu festival de jazz e depois emendei no ritmo do Boitatá num dia e Bangalafumenga no outro, na Praça Tiradentes.   Quem me visse diria que eu era uma autêntica adoradora do ritmo.
Nada programado. Agradeço à amiga Andréia que me tirou do estado de isolamento crônico.
Fiquei feliz comigo mesma por ter sobrevivido, mesmo com meus pés arrasados. Posso dizer que foi muito bom.  Bom por ter compartilhado com amigos, por ter vivido aqueles momentos na rua, por ter presenciado, por ter vivido. E por ter me entregue aos braços da alegria, com amigos.
Ao andar pela cidade, no entanto, tive uma sensação de abandono, não só pelas ruas desertas, quando distantes dos pontos de concentração da folia, mas pela quantidade de  lixo espalhados pela cidade . É impressão minha ou definitivamente o Rio não estava feliz? Os garis não estavam. E deixaram claro pra todos nós.
Na Rede Globo sobraram notícias tendenciosas de que a felicidade estava no ar. Que o Carnaval nos levava a um sorriso espontâneo e natural. E que a cidade do Rio de Janeiro é o presente do verbo sorrir : Eu Rio. Um trocadilho. Entendeu? Sorria então.
É tempo de ser feliz , era a ordem do momento. 
Na minha rabugice, fiquei pensando (inutilmente)pelo momento que o Rio vai acordar da  fantasia. E nem falo da fantasia do carnaval mas dessa que estamos vivendo no dia a dia, com os preços irreais, com a violência nos rondando em cada nova notícia.  Com as obras intermináveis  e de um ano com Copa e eleições.
Passei por uma banca de revistas e vi uma manchete falando que trata-se de uma bolha imobiliária e que vai estourar. Por enquanto parece concentrada nos imóveis comerciais... por quanto tempo ainda viveremos essa histeria?
Ou será que só eu e os que me cercam continuam vivendo de seus salários? Salários esses que não cresceram na mesma medida que os preços de tudo? Será que perdi o bonde? Ou fui esquecida? 

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