Além do calor incrível que não deu trégua, tivemos pela
frente o Carnaval e toda sua alegria. Pensei primeiramente em me refugiar em
casa mas o calor me fez encarar o dia, a luminosidade do sol e o dia todo pela
frente.
Não adiantava mais àquela altura fugir. Todo esse clima e situação
me obrigou a ser feliz. Mas me senti
meio esquisita por não compartilhar de tanta felicidade. Sonhei egoisticamente com
chuva, frio e céu nublado pra justificar o meu desejo de ficar quietinha em
casa e ter o privilégio de ser infeliz um pouquinho.
Mas estava definitivamente obrigada a ser feliz. O meu estado
poderia ser considerado de completa inadequação. Alguns até diriam que se tratava de depressão.
Eu chamaria de o direito de não estar
feliz. Poderia optar pelo isolamento.
Mas não resisti. E me
entreguei por dois dias à alegria contagiante do Carnaval. Achei um refúgio na
rua do Lavradio com seu festival de jazz e depois emendei no ritmo do Boitatá
num dia e Bangalafumenga no outro, na Praça Tiradentes. Quem me
visse diria que eu era uma autêntica adoradora do ritmo.
Nada programado. Agradeço à amiga Andréia que me tirou do
estado de isolamento crônico.
Fiquei feliz comigo mesma por ter sobrevivido, mesmo com meus
pés arrasados. Posso dizer que foi muito bom. Bom por ter compartilhado com amigos, por ter
vivido aqueles momentos na rua, por ter presenciado, por ter vivido. E por ter
me entregue aos braços da alegria, com amigos.
Ao andar pela cidade, no entanto, tive uma sensação de
abandono, não só pelas ruas desertas, quando distantes dos pontos de concentração
da folia, mas pela quantidade de lixo
espalhados pela cidade . É impressão minha ou definitivamente o Rio não estava
feliz? Os garis não estavam. E deixaram claro pra todos nós.
Na Rede Globo sobraram notícias tendenciosas de que a
felicidade estava no ar. Que o Carnaval nos levava a um sorriso espontâneo e
natural. E que a cidade do Rio de Janeiro é o presente do verbo sorrir : Eu
Rio. Um trocadilho. Entendeu? Sorria então.
É tempo de ser feliz , era a ordem do momento.
Na minha rabugice, fiquei pensando (inutilmente)pelo momento
que o Rio vai acordar da fantasia. E nem
falo da fantasia do carnaval mas dessa que estamos vivendo no dia a dia, com os
preços irreais, com a violência nos rondando em cada nova notícia. Com as obras intermináveis e de um ano com Copa e eleições.
Passei por uma banca de revistas e vi uma manchete falando
que trata-se de uma bolha imobiliária e que vai estourar. Por enquanto parece
concentrada nos imóveis comerciais... por quanto tempo ainda viveremos essa
histeria?
Ou será que só eu e os que me cercam continuam vivendo de
seus salários? Salários esses que não cresceram na mesma medida que os preços
de tudo? Será que perdi o bonde? Ou fui esquecida?
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