São
famosas, na família, as histórias do meu avô Camilo, descendente direto de imigrantes
italianos. A família veio do norte da Itália diretamente pra trabalhar nas
lavouras de Minas Gerais no final do século XIX.
Meu
avô e os irmãos já nasceram no Brasil, com exceção de uma menina, a
primogênita, que nasceu e morreu no
navio, durante a viagem ao Brasil e, como de costume na época, foi jogada ao
mar.
Vários
filmes retrataram com exatidão essa cena mas nos emocionamos muito ao assistir
os primeiros capítulos da novela Terra Nostra quando a criança nascida no navio
e morta em função de doença, é jogada ao mar.
Como
diz o título do livro de Márcia Luz: “
Lições que a vida ensina e a arte encena.”
A
história comprova que não foi nada fácil a vinda e permanência dos emigrantes
no Brasil, especialmente a dos italianos que vieram em grande número, a maioria
pra trabalhar nas lavouras de café de São Paulo e Minas.
Apesar
da emigração dos italianos ter sido incentivada e subvencionada pelo governo brasileiro,que pagava suas
passagens,o que eles encontraram no
Brasil foi uma realidade de trabalho
dura e semi escrava, bem diferente da propaganda divulgada na Itália, entre o
povo italiano. Alguns fazendeiros inescrupulosos cobravam todas as despesas de
viagem, e prorrogavam a sua dependência.
A nacionalidade que mais imigrou para a América Latina
foi a italiana, superando os espanhóis e os portugueses, , tendo como ápice a faixa de tempo entre os anos
de 1880 e 1930. Dos 11 milhões de imigrantes que foram para a
América Latina, 38% eram italianos, 28% eram espanhóis e 11% eram portugueses.
A crise na Itália, em função das guerras
de unificação, intensificou as desigualdades sociais e demográficas, obrigando
o pequeno camponês,sem condições de viver da própria terra a buscar outros
países.
“Que entendeis por uma Nação, Senhor Ministro? É a massa dos infelizes? Plantamos e ceifamos o trigo, mas nunca provamos pão branco. Cultivamos a videira, mas não bebemos o vinho. Criamos animais, mas não comemos a carne. Apesar disso, vós nos aconselhais a não abandonarmos a nossa Pátria? Mas é uma Pátria a terra onde não se consegue viver do próprio trabalho?” |
— Fala anônima de um italiano para o Ministro de Estado da Itália |
O Continente Americano aparece, em função dessa crise, como um destino sonhado por milhões de europeus, que imigravam com a promessa de se tornarem grandes proprietários agrícolas.
O
povo italiano apesar das dificuldades fixou-se na terra e misturou-se ao povo
brasileiro e moldou em grande parte a nossa cultura, juntamente com a
portuguesa, a dos negros e índios e ainda realizou, em parte, um dos objetivos do
governo brasileiro encontrado em registros públicos da época que buscava, com a
imigração , especialmente a italiana, “embranquecer” o povo brasileiro.
...............
Meu
avô Camilo e seus irmãos fizeram a sua parte, porque todos se casaram com mulheres mestiças.
A
verdade é que a dureza da vida na lavoura e a frustração devem ter moldado a
criação dos filhos e do meu avó em particular, que com isso construiu um
temperamento bem dificil. Não são raras as histórias pitorescas ocorridas com
os filhos, que ele tratava “ com casca e tudo” , como diz minha mãe.
O
meu avô Camilo rejeitava suas origens. Nascido como Camilo Victalli Carafolli
Cavezolli , filho de José Cavezolli e
Cecília Carafolli, ao se casar com a minha avó oficialmente no cartório,
mandou que tirasse a “carafolada” toda
de seu nome e adotou o sobrenome da minha avó, e passou a se chamar Camilo
Vital da Silva.
Infelizmente
quase nenhum neto chegou a conhecer o avô Camilo. Como era de pouca conversa
com os filhos, pouco se sabe portanto de sua história. O que sabemos foi por
narrativas da minha avó Lucinda.
Minha
mãe lembra vagamente da avó Cecília que vez por outra aparecia pra visitar.
Vinha de vestido típico, preto, todo
bordado na barra e enxotava os netos
quando queriam se aproximar com medo que sujassem sua roupa. Ela não era nada
fácil.
Camilo
e Lucinda - Aventuras em série
Nenhum comentário:
Postar um comentário