Cheguei
em Duque de Caxias, baixada fluminense, pela primeira vez diretamente de
Petrópolis, em um ônibus da Única. Desci na Rodoviária, se é que poderíamos
chamar aquele ponto final de rodoviária. Era um local no final de uma rua, onde
os ônibus paravam, no meio de tantos outros. Passei por entre aqueles
corredores de ônibus em filas sem fim, que se misturavam aos vendedores
ambulantes. Todos falavam alto e o calor era insuportável. E, como não chovia ha
alguns dias, a poeira se espalhava pelo local.
Estranhei. Nunca tinha visto um lugar
como aquele. Fiquei impressionada. Muitos anos depois ,fui trabalhar
em Caxias e muitas coisas mudaram e para melhor. Mas aquele era o ano
de 1990
ou algo próximo disso. E era outono mas na Baixada nessa época, o calor já era abrasador.
Com
um endereço em mãos e após vencer aqueles primeiros obstáculos, saí perguntando
a um e outro os caminhos até conseguir chegar ao local indicado. A “amiga” que
me convenceu a ir neste encontro, me falou maravilhas sobre os produtos
cosméticos que seriam apresentados. Tratava-se de uma linha que chegara
recentemente no Brasil.
Resisti
bravamente enquanto pude aos seus convites insistentes para que eu ao menos, fosse
a uma reunião para conhecer, sem compromisso. Estranhava o seu discurso, cada
vez mais obsessivo. Morava em Petrópolis, ela no Rio mas a distância não
impedia que ela me ligasse diariamente:
- Já decidiu, Teresinha? Olha só , vai ter uma reunião em Caxias, dia
tal, fica mais perto pra você, nem precisa ir de carro, me disseram que é perto
da rodoviária. Você vai adorar!
Como
não tive coragem de dizer não e estava realmente de bobeira naquele dia, eis
que me vejo em Caxias no tal endereço. Muito antes de chegar ali eu já estava
arrependida.
– Meu Deus, o que eu to fazendo aqui? Falei
baixinho comigo mesma.
Subi as escadas. Era uma pequena sala no segundo andar de um prédio mal
acabado, espremido entre uma agência bancária e um comércio.
– Por que não vou embora? pensei.
O
casal parado logo na entrada sorriu pra
mim, desejou-me boas vindas e me
entregou uns folhetos
Observei
que só tinha uma porta.
-
Vou ficar sentada aqui atrás pra poder sair logo, pensei.
A
sala estava organizada com diversas fileiras de cadeiras brancas de plástico e
um outro casal, também com sorrisos tatuados no rosto postavam-se naquilo que poderíamos chamar de palco. Ele vestia terno e ela um vestido social com
sapatos de salto. Cabelos indefectíveis.
Em
pouco tempo a sala ficou cheia de gente
e eu fui percebendo que meus planos de sair disfarçadamente não iam dar
certo.
Vários
casais deram seus depoimentos de que a vida deles mudou depois que conheceram a
Beauty World. Suas palavras me remetiam a
algum discurso messiânico, a uma seita divina ou iluminação milagrosa.
Nas telas, fotos de casais americanos com seus filhos e suas casas, prósperos e felizes. O paraíso. A fonte da
riqueza e da prosperidade. Tudo isso
graças à família Beauty World.
No discurso procurava-se convencer aos presentes de que a venda daqueles produtos também poderia lhe proporcionar aquele padrão de
vida. Claro que para isso bastava comprar o kit de produtos por
tantos dólares, um pequeno investimento inicial e a partir daí, o produto se
vendia por ele mesmo...
Fiquei
tão incomodada com aquele discurso e, me sentindo cada vez mais pressionada, me
levantei pra ir embora. Assim que me
levantei, a expositora, hipnotizada e desesperada por resultados, gritou, antes
mesmo que eu chegasse a porta:
-
Como é seu nome?, perguntou histérica.
-
Teresinha, respondi, querendo sair correndo dali.
-
Uma salva de palmas para ela, senhores.
E
fui amplamente aplaudida, de pé, ali no meio da sala.
-
E você vai optar por ser uma representante ou uma divulgadora? – perguntou.
Pensei
em explicar que na verdade eu me levantei pra ir embora, mas diante de tantos aplausos, fiquei sem
palavras. Tímida, estava desesperada pra ir embora.
“Divulgadora”,
falei entre os dentes, pra que eu mesma não pudesse ouvir minhas próprias
palavras. Tentei me apegar ao que menos comprometia.
-
Parabéns Teresinha!! Seja bem vinda à família Beauty World!
Nem
pensei muito, agradeci meio sem graça e e saí da sala com a cabeça
baixa, sem explicação mas sob aplausos efusivos. Acho
que depois da minha iniciativa, várias pessoas se levantaram pra também
entrarem na família Beauty World. Eu aproveitei o momento e desci as escadas e não olhei pra trás. A
sensação era de que alguém correria atrás de mim pra eu formalizar um contrato.
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Logicamente
isso virou mais uma piada de família e essa cena já foi encenada lá em casa várias vezes. Sempre rimos muito.
Logo
em seguida, a tal amiga parou de vender e falar no assunto. Não ficou rica,
como esperava.
Mais
tarde tomei conhecimento de outras redes de produtos que também utilizavam esse mesma tática do milagre econômico, já que algumas pessoas bateram à minha porta
com o mesmo discurso hipnotizado. Antes de abandonarem esse caminho investiram
algumas economias. Nenhuma delas ficou rica.
Porém,
longe dali alguém com certeza enriqueceu.
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